quinta-feira, 7 de março de 2013

Direito Penal IV (07/03/2013)

3) Direito Penal Primário e Direito Penal Secundário: Secundário é aquele que foi editado na legislação secundária, é o direito penal não previsto no CP, é o previsto na legislação secundária (extravagante).

Homicídio

* Crime hediondo é um crime considerado hediondo. Hediondez é um crime repugnante, mas não é isso que importa para o direito penal, o que importa é o que está na Lei 8.072. Em 1990 o homicídio não estava dentro dos crimes hediondos, até que em 1994, aconteceu um crime que chocou a sociedade, o assassinato da Daniela Perez, a Glória Perez começou a fazer protestos, etc, pois o homicídio não era  tratado como crime hediondo, então provocou um clamor social muito grande e depois disso incluíram o homicídio dentro dos crimes hediondos, mas não foi aplicado retroativamente. Foi um erro em 1990 o homicídio não ter sido considerado hediondo.

A Lei 8.930 modificou o art. 1º e definiu que o homicídio é hediondo:
- Qualificado: Daniela Perez
- Praticado por atividade típica de grupo de extermínio, ainda que só por uma pessoa (homicídio simples): Candelária (menores de idade de rua dormindo na Candelária, foram executados por policiais).

* O que não é grupo de extermínio: 2 pessoas num bar matarem um cara por causa de futebol. Mas é grupo de extermínio quando 5 policiais metralharem crianças dormindo na frente de uma igreja. Não se sabe exatamente o que é, sabe-se o que não é grupo de extermínio. Para ter um grupo de extermínio tem que ter no mínimo disparidade de armas entre autores e vítima (a vítima ser muito mais vulnerável em relação a quem executa o crime). Quando tenho uma vítima muito mais vulnerável que o autor do crime, esse homicídio é automaticamente qualificado, porque uma das qualificadoras é impossibilidade ou dificuldade de defesa do ofendido.

-> É possível ter um homicídio simples quando praticado por atividade típica de grupo de extermínio? Não, vai ser qualificado sempre! E ele vai ser hediondo não porque é de grupo de extermínio, mas sim porque ele é qualificado (impossibilidade ou dificuldade de defesa do ofendido). Qual possibilidade de menores de idade serem metralhados por dormirem na rua? Quase nenhuma, ou seja, esse crime é hediondo porque ele é qualificado.

-> Há raros casos do homicídio praticado por atividade típica de grupo de extermínio sendo considerado crime hediondo.

-> O homicídio simples só é considerado hediondo quando for dentro do homicídio praticado por atividade típica de grupo de extermínio sendo considerado crime hediondo.

-> Homicídio qualificado sempre é considerado crime hediondo? Há a possibilidade de em alguns casos um crime ser considerado qualificado e privilegiado. Ex.: casal estava em casa no almoço, a criança chega em casa chorando e diz que estava voltando para casa, quando passou na frente da casa do vizinho, o adolescente do vizinho pede para ele entrar para mostrar um joguinho e ele estupra a criança, o filho relata para o pai, que vai na casa do vizinho e mata o adolescente com um tiro -> Este é um homicídio qualificado-privilegiado, é qualificado porque tem dificuldade de defesa da vítima (as possibilidade de o adolescente abrir a porta e alguém dar um tiro nele é quase nula), e é privilegiado porque o pai matou o adolescente porque o filho dele foi abusado sexualmente. Esse homicídio vai ser considerado hediondo? Não, porque ele é privilegiado também. Hediondez é algo que dá nojo, então uma coisa privilegiada é uma causa nobre, então afasta a hediondez do caso, mesmo sendo qualificado!

* Diferença de Homicídio e Genocídio: os crimes de genocídio estão na Lei 2.889/56. O genocídio é um homicídio encorpado, é quando se pratica um homicídio com a intenção de destruir um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Para praticar um genocídio não precisa de mais de uma pessoa. Se eu matar um índio porque ele me xingou, vai ser a mesma pena de que se eu matar um índio porque eu odeio índios! Genocídio vai a júri? Os crimes que vão a júri são os dolosos contra a vida e estão no art. 121 a 129 do CP, e o genocídio não está ali, então não vai a júri, então se eu matar um índio porque ele me xingou, eu vou a júri, se for porque eu odeio índios, vai ser num juiz singular.

Crime de Homicídio:
4) Tipo Objetivo do Homicídio (em todos os crimes será analisado o tipo objetivo e o tipo subjetivo):
Em crimes materiais o fato típico tem uma estrutura que tem resultado, nexo de causalidade e conduta. Posso ter a conduta de matar alguém, posso ter resultado, mas se não houver um nexo entre os dois, por exemplo, tenho a conduta de matar alguém, dou um tiro, mas a pessoa é levada para o hospital viva, o hospital desaba, e a pessoa morre, há o resultado morte, mas não fui eu que causei a morte da pessoa.
Primeiro vamos analisar a conduta do crime do homicídio, depois o resultado e depois as questões relacionadas ao nexo de causalidade.
4.1.) Conduta do Crime de Homicídio:
O verbo nuclear do tipo (caput do art. 121, “matar alguém”) diz que o homicídio é um crime comissivo. A palavra matar denota um fazer, uma ação, e por isso que é um crime comissivo. Alguém poderia ser condenado no art. 121 em razão de uma omissão? Sim, por exemplo, quando um salva-vidas vê alguém se afogando e não faz nada para evitar a morte, mas o art. 121 diz matar alguém, não foi ele que afogou a pessoa. Se um médico matar alguém durante uma cirurgia por causa de uma imperícia, o médico praticou uma conduta de matar alguém, porque tenho a conduta de matar alguém, tenho o resultado morte e o nexo de causalidade ligando a morte a conduta, a causa mortis foi hemorragia e o médico que causou a hemorragia. Mas se chega num hospital uma pessoa baleada e o médico dizer para a enfermeira ir ver antes e a pessoa morre, o médico vai ser culpado, mas a causa mortis foi o tiro, não foi o médico que deu o tiro, não há uma ligação naturalística entre a conduta do médico e o resultado morte. É diferente um salva-vidas afundar a cabeça de alguém e de ele enxergar alguém se afogando e não fazer nada. Se um advogado omite socorro, será menos grave do que se for um médico, porque o médico tem um dever de agir. Não faria sentido dar a mesma pena para o advogado e o médico (ou um banhista e um salva-vidas, ou um pai e um vizinho terem a mesma pena por deixar o filho se afogar, o pai deve receber pena maior porque é o filho dele que está se afogando), não é razoável.

Distinção entre Crime Omissivos Próprios e Impróprios:
Quando é possível a pessoa ser condenada pelo art. 121, caput, por omissão? Quando ele é garantidor.
Crimes Omissivos Próprios (11:00): são aqueles em que o verbo nuclear do tipo penal descreve uma conduta negativa, um não-fazer. Todo tipo penal cujo verbo nuclear tem um conteúdo semântico que é não fazer, é crime omissivo próprio. Ex.: Omissão de socorro.

Prevaricação (art. 319) é omissivo ou comissivo? Como descubro isso? Pelo verbo nuclear. Quantas condutas típicas de prevaricação há? Três, posso retardar ato de ofício para satisfação de interesse pessoal, posso deixar de praticar ato de oficio, ou posso praticá-lo contra disposição expressa de lei.
Ex.: Se um delegado deixar de instaurar um inquérito policial para proteger um amigo (deixar de praticar), será prevaricação, e se ele deixa prescrever para instaurar, também será (retardar), ou se o delegado instaurar um inquérito policial com fatos falsos contra o devedor dele mesmo para devolver o dinheiro para ele (praticar). Qual delas é comissiva? Praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal. Omissiva é a deixar de praticar. Retardar está em cima do muro, é omissivo ou comissivo? Tomei conhecimento hoje e só instaurei em agosto, é omissão ou comissão? É uma omissão própria, a parte comissiva não interessa para nós, se ele tomou conhecimento em março e só instaurou em agosto, não importa se ele retardou ou não instaurou.

Abandono de Incapaz (art. 133) é omissivo ou comissivo? O verbo nuclear é abandonar, quem abandona faz alguma coisa, mas não faz aquilo que o direito espera, omissão para fins penais não é inércia, é quem não faz algo que o direito espera, pouco importa o que a pessoa realmente fez, só importa que a pessoa faz algo que o direito não espera, quem abandona não faz algo, pois não faz alguma coisa que o direito espera, mesmo que ele tenha feito algo (abandonado). Se um enfermeiro deixar um paciente fugir, pouco importa se ele ficou olhando ou se ele foi fazer alguma outra coisa enquanto devia estar tomando cuidado do paciente, ele não cumpre isso se fica quieto ou se vai ao banheiro enquanto deveria estar cuidando do paciente. 133 é formal ou material? Importa se teve algum resultado? Não, é um crime informal, é um crime omissivo próprio.

Exposição ou abandono do recém-nascido (art. 134): É crime próprio ou comum? Próprio. A mãe deixa o filho num cestinho na frente da casa do vizinho pois essa criança foi resultante de um estupro e ela não quer que ninguém saiba, o que o direito espera é que ela cuide da criança, não que ela o deixe na frente da casa do vizinho.

Apropriação Indébita (art. 168): Ninguém se apropria ficando quieto, para isso tem que fazer algo, praticar uma conduta.
Apropriação Indébita Previdenciária (art. 168-A): “Deixar de repassar”. Descontar os 90 reais da previdência da empregada, e não recolho dia 15, quando se consuma esse crime? É crime omissivo próprio, pois consumo quando não repasso, devo fazer no dia do vencimento (dia 15), então o crime se consuma dia 16.

Exemplos de Crimes Omissivos Próprios: art. 139, 139 (retardar e deixar de praticar), 133, 168-A.

Art. 302, p.ú., III ≠ 304 -> Motorista que atropela uma pessoa e não para para prestar socorro responde pelo art. 302, p.ú., III, quem responde pelo art. 304 é a segunda pessoa que passa pelo atropelado e não presta socorro.

A maneira própria de consumar um crime omissivo próprio é o não fazer.

Todo tipo penal cujo verbo nuclear descreva um não fazer, ainda que relacionado a uma qualidade especial de um sujeito ativo que aparentemente figuraria como garantidor (ex.: abandono, art. 133), será considerado um crime omissivo próprio.

Direito Civil IV (07/03/2013)



Parte Geral dos Contratos:

Contrato: não vale por si só, vale pela função que ele desempenha.
- Norberto Bobbio – Da Estrutura à Função (é um dos percursores que defendem a função social dos institutos jurídicos).

Há uma série de valores, de características que são importantes para a sociedade civil e que em determinado momento histórico predominaram.

1ª ideia que o contrato representa: Formalismo (veio do Direito Romano, é a característica que sobressai), por exemplo, na figura do contrato escrito (solene).
No direito romano há 4 contratos, que são: locação, mandato, compra e venda e sociedade.
Quando falamos em contrato hoje não pensamos em vários, mas há, as pessoas são livres para criar contratos.
Rudolf Ihering (Séc. XIX) – autor que destaca que os contratos no direito romano eram formais (“O inimigo jurado do arbítrio e a irmã gêmea da liberdade”).
Tenho que fazer citação à luz do dia, porque isso? Se cometo o crime de dia, terá menos pena do que se for cometido à noite, porque isso? Se autorizo atos processuais à noite (como um despejo), a madrugada da família não será nada tranquila, então é por motivo de a noite ser um momento de repouso, união da família, é para proteger a família. A função é o asilo inviolável da família. Sempre que há um formalismo, tem que haver uma função social. Se o advogado não foi intimado com antecedência, não haverá audiência, pois há um formalismo. Ninguém pode ser preso na véspera da eleição por formalismo, pois queremos que se preocupem com as eleições, não com a polícia.

* Formalismo na prova!

Testemunhas Instrumentárias: Em alguns contratos 2 pessoas tem que assinar como testemunhas além das partes. Isso é um formalismo.
1. Duas testemunhas além das partes -> Dão uma presunção de que o contrato é perfeito, é um título executivo (como se fosse um cheque, uma duplicata). O fato de ter 2 testemunhas é um mero formalismo, mas 1 só testemunha não poderia mesmo ser! Há mais agilidade na proteção do crédito, porque eu já estou na fase de execução, economizo a fase de conhecimento, se presume que as testemunhas não estejam mentindo ao assinar aquele contrato.
2. Sem testemunhas -> Conhecimento. É apenas uma prova que vai ser usada no contrato de conhecimento, não é um título executivo.

Cobrança: 100.000,00
Petição Inicial – Contestação – Réplica
                                     V
                     3 meses – 9 meses
                   Instrução Probatória
                          1 – 2 anos
                    Sentença
             Apelação – TJRS
                   1 -2 anos

A Brasil Telecom tem um crédito de 100 mil reais frente a uma empresa. Então ela entra com uma ação de cobrança contra a empresa. O juiz recebe a inicial, manda citar o réu (a empresa supostamente devedora) para que traga a sua defesa (contestação), e a empresa pode dizer, por exemplo, que não pagou as faturas porque no mês tal o sinal estava péssimo, não havia acesso. O juiz devolve para o autor, que oferece a réplica, e o autor rebate o que o réu disse na contestação. Até aqui demora de uns 3 a 6 meses. Feita essa primeira fase, surge no processo a instrução probatória, o juiz pode ouvir testemunhas, determinar a realização de perícias, etc, deve produzir provas com o objetivo de se inteirar do que aconteceu. De 1 a 2 anos de produção de provas. E quando o juiz está seguro para dizer quem tem razão, ele profere uma sentença (“Julgo procedente a ação, a empresa deve pagar 100 mil para a Brasil Telecom” ou “Julgo improcedente a ação e nada é devido”). Quem perde pode recorrer para o Tribunal (apelação), que vai ser julgada pelo Tribunal de Justiça de 1 a 2 anos depois da sua interposição e quem perde no Tribunal pode recorrer para Brasília com um Recurso Especial, que pode demorar de 1 a 10 anos para ser julgado. Então, para que o juiz diga que há um débito de 100 mil reais, ficamos no processo de conhecimento de 4 a 5 anos, e o juiz ficou convencido, disse que há um débito de 100 mil e tem que ser pago, e nós vamos para a fase de execução (agredir o patrimônio do réu). A diferença prática de quando o contrato tem ou não 2 testemunhas ocorre que quando há 2 testemunhas ou direto para a execução, e quando não há, tenho que convencer o juiz através de uma ação de processo de conhecimento, para que o juiz me dê a sentença dizendo que eu tenho crédito, sentença chamada Título Executivo Judicial. E o contrato com duas testemunhas é chamado de Título Executivo Extrajudicial, mas os 2 são títulos executivos. O contrato com 2 testemunhas, em tese, tem o mesmo valor de uma sentença judicial.

2ª ideia que o contrato representa: Encontro de Vontades (herança da Revolução Francesa). Tenho um contrato pois duas pessoas em algum momento encontraram o que era melhor pra elas. O contrato é o acordo de vontades com o objetivo de criar, modificar ou extinguir direitos (isto nada mais é do que a redação do art. 1134 do CC francês de 1.804).
Vícios da vontade: dolo, coação, erro, simulação, etc, porque se o que vale é a vontade, tenho eu me preocupar em garantir a vontade, não adianta celebrar contratos sem a vontades das partes.
CC Brasileiro – Art. 157 (Da Lesão): Meu pai está em coma, precisa dar uma garantia de tratamento para o hospital. Então eu me comprometo de pedir emprestado para alguém e pagar 5% de juros e devolvo em 6 meses, em alguns meses meu pai se salvou, então tenho que devolver o dinheiro, então tenho que pagar quanto para ela, segundo o direito brasileiro? Mais, menos ou igual?
Cálculo de Juros no Direito Brasileiro: São compostos. Ex.: 100 reais com 10% - no próximo mês fica 110, e os 10% vão incidir sobre os 110, então ficaria no próximo mês 121 reais. Se o magistrado compreender que só contrai o crédito em premente necessidade, ele enquadra no art. 157 do CC e ai reduziria a contraprestação em 1%/mês de juros mais IGPM, que é o aplicado para contrato pessoal.
Se um dos requisitos do contrato é a vontade, tenho que defender a pessoa que teve sua vontade suprimida.
Ex. de Vontade: Se uma criança liga para o Disque Sim e gasta muito, a criança não teve vontade, então deve ser cobrado dos pais? De um lado os pais deveriam saber como que a criança está usando esse telefone, e por outro lado a empresa deveria perceber que a pessoa é uma criança pela voz, ou pelo menos perguntar quantos anos a pessoa que ela está falando tem.

3ª ideia que o contrato representa: Economia (Enzo Roppo – Séc. XX): Enzo Roppo falava que este conceito do séc. XIX é muito bonito para os autores franceses do séc. XIX, mas na prática é diferente. Leon Ouguit e Louis Josserand (forma importantes aqui). Alguém lê o contrato quando compra uma passagem aérea pela internet?
Uma criança comprar uma bola no shopping é um contrato válido? Para a doutrina francesa não, pois uma criança de 12 anos não teria vontade própria, mas para essa última sim, pois é positivo para a economia, diz que a vontade não é tudo!
Enzo Roppo diz que os contratos valem pelo impacto que eles fazem na economia.

Pacta Sunt Servanda. Louis Josserand - “Qui Dit Contractuel Dit Juste” (“Quem diz contratual, diz justo”), se as vontades se encontraram, senhor juiz, não interfira no contrato, cada um sabe o que é melhor para si, se alguém quer pagar mais por um Fusca antigo por ser colecionador, o problema é dele!

4ª ideia que o contrato representa: Confiança (Karl Larenz). Art. 242 do CC Alemão (Treu Und Glauren). Pode-se processar a CVC por não ter quarto no hotel de Paris, pois a funcionária do hotel se enganou? Sim, pois é necessário que os consumidores tenham confiança, é a proteção da confiança. As pessoas fazem contratos, de regra, com quem elas confiam. Um carro é furtado do estacionamento do shopping, o shopping tem que indenizar o dono do carro? Sim, há uma súmula do STJ. As placas normalmente não adiantam nada, e os juízes tendem a aumentar a indenização quando há placas, pois elas tendem a enganar o consumidor.